quarta-feira, 30 de maio de 2007

Marcelo Campello: projeções em sete cordas

Marcelo Campello está no Rio de Janeiro onde faz hoje, na Casa da Gávea, às 21:00, o show de lançamento do seu primeiro disco solo, Projeções e mais duas séries para violões de sete cordas, e no sábado se apresenta com o Mombojó, no Circo Voador. Embora o violão de sete cordas seja utilizado em algumas músicas da banda pernambucana, Marcelo Campello surpreende pela maturidade que apresenta como compositor neste primeiro trabalho instrumental, aproximando-se da música erudita, experimentando dissonâncias, flertando com a atonalidade, dialogando com o silêncio, transgredindo a lógica do andamento das canções, mesmo que suas referências no instrumento venham todas de músicos da tradição popular. Normalmente utilizado como instrumento de acompanhamento em conjuntos de samba e choro, na obra de Marcelo Campello o violão de sete cordas assume o primeiro plano, tanto no momento da composição quanto no da execução das músicas. Gravado em Recife, no ano passado, Projeções e mais duas séries para violões de sete cordas é composto por 35 músicas divididas em três movimentos, todas executadas somente no violão: Projeções, Soturnos e Sonhos. O Blog do Pindzim conversou com o jovem compositor sobre a sua relação com o instrumento que resultou em um disco belo e singular.

Pindzim: Como se deu seu primeiro contato com o violão de sete cordas e a partir de que momento você resolveu estudá-lo a ponto de incorporá-lo às suas atividades como músico?
Marcelo Campello: Comecei com o de seis, tirava umas fitas antigas de Canhoto da Paraíba de ouvido. Em uma delas ele era acompanhado por Bozó, 7 cordas lá de Recife que é da escola de Horondino Silva. Na época do vestibular eu entrei no conservatório para aprender a ler partitura e Bozó ensinava lá, daí eu colei na dele. Ele me ensinou a técnica do polegar com apoio dos chorões, que eu uso até hoje só que com algumas particularidades. Como não preciso extrair tanto volume do instrumento, preocupo-me com um timbre mais grave e etéreo na mistura de unha e carne.

Pindzim: Em que circunstâncias se deu e como foi o seu encontro com Canhoto da Paraíba?
Marcelo Campello: Um amigo meu, José Vasconcelos Vieira, produziu há alguns anos um documentário sobre a vida de Canhoto que conta com depoimentos de uma turma grande, Paulinho da Viola etc. Quando lancei o disco ele ouviu e comentou que estava indo visitar Canhoto em Maranguape, e me convidou. Fomos, passamos uma tarde inteira conversando, ouvindo belas histórias, ouvimos meu disco juntos e ele comentava nas passagens sorrindo: "bonito!". Fiquei muito feliz.

Pindzim: O violão de sete cordas é um instrumento característico do samba e do choro, de acompanhamento. Você já citou o estilo de Dino 7 Cordas como sendo a sua grande escola, mas no disco Projeções e mais duas séries para violões de sete cordas você se mantém distante deste universo, mergulhando em experimentações. De que maneira a tradição do violão de sete cordas influenciou as suas composições? Se é que exerceu alguma influência. Quais foram as influências e inspirações para compor as músicas presentes no disco?
Marcelo Campello: As influências violonísticas vieram muito no princípio, principalmente Canhoto e Garoto. Depois elas vêm da vida mesmo, já não busco referências fora de mim.

Pindzim: Qual distinção você faz entre os três movimentos do disco, Projeções, Soturnos e Sonhos?
Marcelo Campello: São séries relativas a momentos pessoais de minha vida. Sonhos é o princípio da dormência, mais ingênua e leve. É a série mais antiga, de 2002. Soturnos foi um período muito difícil, inclusive com um acidente grave de carro em 2004. Projeções é sobre sair do corpo e se olhar de uma perspectiva externa.

Pindzim: As músicas presentes no disco foram compostas ao longo de quatro anos. Quando você decidiu que era a hora de registrá-las em disco?
Marcelo Campello: Havia muitas composições já, não é simples manter um repertório de 35 peças. Decidi registrar para fazer um "backup" e esvaziar a mente para compor mais.

Pindzim: Como o violão de sete cordas foi incorporado à musicalidade peculiar do Mombojó?
Marcelo Campello: É difícil viabilizar tecnicamente o violão em meio àquele volume todo, procuramos criar momentos específicos para ele.

Pindzim: No Mombojó, o violão de sete cordas é utilizado, principalmente, em canções que se aproximam do samba, e até se faz menos presente no Homem-espuma, você concorda? A partir das músicas deste disco solo, você foi vislumbrando outras possibilidades de utilizá-lo em seu trabalho com a banda?
Marcelo Campello: Não consigo fazer associações deste meu disco com a banda, são funções absolutamente distintas. Projeções é pra acalmar, Mombojó é pra agitar.

Projeções e mais duas séries para violões de sete cordas pode ser encomendado através da Livraria Cultura. Algumas músicas podem ser ouvidas no myspace, onde há um link para baixá-lo na íntegra; e estará a venda no show de hoje a noite.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e