sábado, 25 de outubro de 2008

Crônicas de um festival anunciado

Os anos passam, as edições se sucedem e a produção do Tim Festival segue incorrendo em erros recorrentes. Filas intermináveis para comprar bebida e comida, palco ao ar livre, que no ano passado inviabilizou a apresentação de bandas do circuito alternativo, e o principal e mais grave: tendas com acústica mediana e que não barram a propagação do som. Resultado, ontem, Carla Bley subiu ao palco da tenda de jazz sob a vibração dos graves exorbitantes de Kayne West.

O rapper americano conseguiu lotar o palco principal da edição carioca do Tim 2008. Em sua apresentação, West é a estrela solitária rimando sobre bases pré-gravadas a frente de um cenário inspirado em um futuro de penúria. Incandescente, seco e monótono. Em frente ao palco, fãs animados dançavam e gravavam o show com suas câmeras e celulares. À medida que se caminhava para o fundo da tenda, predominava a badalação.

Na outra tenda, o The National começou sua apresentação para muito pouca gente que de fato conhecia a banda. A iluminação, clara demais, tornava o clima ainda mais impessoal e frio. O som embolado não contribuía para criar empatia com o público. Não agradou.

Esperanza Spalding abriu a segunda noite do festival e fez uma apresentação que agradou bastante aos presentes. Pindzim não viu o show, mas a julgar pelos comentários e pelos vídeos gravados, a cantora e baixista americana justificou as expectativas com seu jazz enquadrado em canções pop, com cirações à música brasileira - reforçadas no show pela participação especial do guitarrista e violonista Chico Pinheiro.

No encerramento da festa, o Instituto e convidados reuniu uma multidão no palco ao ar livre e botou a galera para dançar ao som do Tim Maia, fase racional. Faziam parte do timaço Fernando Catatau e Junior Boca nas guitarras, Pupilo na bateria, Thalma de Freitas e Carlos Daffé nos vocais. O rapper Kamau improvisando rimas sobre as bases do mestre mostrou a todos que quiseram ver que a música brasileira está alguns pontos acima da de estrelas importadas cheias de marra, como West, impostas de cima para baixo por uma indústria agonizante em seus últimos e derradeiros suspiros.

Pindzim não assistiu ao MGMT, mas, pelo menos no Rio, o Tim ganharia mais se investisse em mais atrações nacionais e preços de ingresso mais baixos. Vamos esperar para ver o palco 100% nacional hoje, mas é quase certo que a animação seria muito maior. Ah, e o jazz deveria ser um festival a parte. A maior parte do público não está interessada nas atrações pop. E ainda evitaria o duplo desrespeito, ao público e aos próprios artistas prejudicados pela precária infra-estrutura sonora.

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