sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Entrevista às avessas com Thalma de Freitas

Um dia depois de publicar a postagem logo aqui abaixo, fui surpreendido por um email bastante carinhoso da própria Thalma de Freitas comentando os textos que escrevi sobre ela aqui no blog. Começava dizendo, "tenho uma uma canção inacabada que se chama  "Futuro do Pretérito", hehehe, sempre vejo coinscidências como algo auspicioso". O título da postagem era Thalma de Freitas no futuro do pretérito.

Em seguida, esclareceu e completou algumas informações colocadas no texto a respeito do momento atual da sua carreira como cantora e compositora e de seus planos para o futuro. "A saber, meus outros projetos musicais não foram engavetados, tanto Casio Knights quanto o Voz e 7Cordas deverão ser gravados na sequência deste A Filha do Maestro", explicou. "Não faço idéia de como ou quando esses albuns serão lançados, minha relação com música continua sendo independente e livre."  

Na continuação do email, Thalma questionou algumas das minhas colocações sobre a apresentação na Sala Funarte. Foi interessante, pois permitiu-me fazer uma releitura crítica a respeito daquilo que escrevi na manhã seguinte ao show. Por exemplo, notei o quão injusto e fora de propósito fora compará-la com Mariana Aydar em suas relações com o samba (Mariana) e o samba jazz (Thalma). "A propósito, o samba jazz não me persegue, ele é a minha praia", afirmou a filha do maestro Laércio de Freitas, nome fundamental para a conformação do gênero. Thalma cresceu neste ambiente e o próprio EP, que ela considera de fato a sua estreia fonográfica, tinha seus arranjos construídos da combinação de voz, piano, baixo e bateria. Reafirmando essa ligação, ela citou a canção instrumental "JT", que compôs em homenagem ao falecido J.T. Meirelles e foi apresentada na Sala Funarte.

Pediu também que eu fosse mais claro a respeito da seguinte colocação: "Paradoxalmente, os melhores momentos do show são fruto da tensão anacrônica que se cria entre os arranjos passadistas e as composições recentes, nada reverentes à tradição do samba jazz". Ao respondê-la, tentei ser mais claro e coloquei da seguinte forma: "o paradoxo, ao meu ver, é o seguinte: você pega canções novas, recentes, como as de sua autoria e a do Romulo [Fróes], por exemplo, e as arranja com piano, baixo e bateria, mas não se trata de  uma renovação do samba jazz. Já não é mais algo facilmente rotulável, é uma coisa diferente", expliquei. "Do anacronismo entre o samba jazz e estas músicas novíssimas, desvinculadas de quaisquer tradições, surge o futuro do pretérito ou o pretérito do futuro, quando duas pontas aparentemente distantes se aproximam pra criar uma coisa diferente".

Thalma justificou também a inclusão de músicas antigas no roteiro do show, opção que mereceu críticas da minha parte. "Não tem problema nenhum não ter canção inéditas o suficiente pra preencher uma hora e vinte de show, ainda mais no caso de uma compositora em início de carreira, que declaradamente está no meio de um processo artístico. E eu avisei na hora que "Dindi" não estava no roteiro, a gente só tocou porque o show estava acabando e eu estava adorando aquele palco, queria ficar mais um pouco...é óbvio que eu não vou grava-la, mas posso cantar quando quiser, né?! O único risco que corro é de ser mal compreendida, mas isso não é grave", ela escreveu.

Realmente, não é grave, mas neste ponto discordei, embora tenha sido um pouco rigoroso, pois além de "Dindi", houve uma boa versão de "É Mentira, Oi", de Ary Barroso. "Não tenho nada contra haver músicas antigas no show. Mas, sinceramente, acho que esses super-clássicos, quando interpretados e arranjados de forma semelhante às gravações originais, agradam àquela parcela do público mais conservadora (a maioria, talvez), mas pouco acrescentam ao artista. Por outro lado, "Batuque", do Bebeto Castilho, que vc cantava no show do EP, é sensacional, por ser uma pérola que vc desencavou do baú. Eu mesmo não conhecia antes de ouvi-la na sua voz", retruquei.

Antes de se despedir, Thalma ainda explicou a estranha interpretação de "Cordeiro de Nanã". "Ficou péssimo mesmo, eu tava tomando uma surra daquele in-ear, desconcentrei, foi mal, desculpe!" Não tem nada que se desculpar, Thalma, eu é que tenho que agradecer a atenção dispensada. Estes canais alternativos servem pra isso mesmo, desenvolver reflexões acerca deste momento especial pelo qual atravessa a música brasileira. Melhor ainda quando o artista se dispõem ao diálogo franco e aberto. A propósito, a postagem original e a íntegra dos emails trocados entre nós está em A Filha do Maestro, o blog da Thalma.

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